Continuação da ENTREVISTA (junho)

O resultado foi sempre negativo: meu mal não era físico…Psicotrópicos e remédios para dormir foram paliativos, que me faziam sentir melhor. Era parar o tratamento e todo o mal voltava… Abandonei os estudos… Encontrei outros médicos, e remédios mais fortes, mas a dor no peito, o vazio na cabeça, os suores frios que umedeciam mãos e pés, a angústia interminável continuavam. O médico me dizia que o casamento me curaria… -Aí, você se casou com uma rio-pardense e veio ser feliz aqui? – Casei-me. A neurose provoca instabilidade: mudança de casa, de trabalho, de cidade… Vim morar em São José. Fiquei feliz. A tranquilidade e a paz da cidadezinha trouxeram-me melhoras.
Vieram os filhos… Os sintomas do meu mal reapareceram. Mais médicos de todos os lugares. Igrejas, terreiros, videntes…
Falei, chorei, contei minha vida a sós e em grupo…Tudo voltava a estaca zero.
Os médicos foram meus amigos, sempre me trataram muito bem; nada tenho contra eles… – E os filhos? Não mudaram sua vida? – Não. Quando percebi, meus filhos já estavam crescidos. Fui implicante, crítico, sem elogios…Cresceram sem minha participação. Quando eles saíram de casa para estudar fora, percebi o quanto tinha perdido. Entrei em pânico. Foi uma grande sensação de perda: a maior depressão que tive na vida. Vivi a tortura do inferno. Pedia a morte a Deus… Pensei em suicidar.
Tentei… Foi quando procurei um psiquiatra, diretor de famosa clínica, em Lousane, na Suíça, que estava em São Paulo. Gastei pequena fortuna em dólares, entre consultas e remédios… Mas só o preço foi diferente…
Tantos foram os medicamentos que perdi, temporariamente, o equilíbrio e a potência sexual… Cheguei a tomar 19 comprimidos por dia! – Como você conseguiu sobreviver nestes tormentosos 35 anos de neurose? E o trabalho? E a família? -Sempre pedi a morte. Tinha pensamentos suicidas. A loja e a música me distraiam, mas, repentinamente, eu largava tudo e me escondia. Minha mulher, esgotada, insistia em que eu fosse a uma reunião de Neuróticos Anônimos. Nunca lhe dei ouvidos.
Meu orgulho e egoísmo não permitiam que eu me misturasse com gente simples, que nunca frequentou consultórios de grandes médicos… Um dia, ela foi sozinha.
Voltou sem me dizer uma palavra. À minha curiosidade, ela respondeu que não sabia relatar o que sentiu e que eu deveria ir à uma reunião. Ela deixou uns livretos sobre um móvel. Dias depois, folheei-os. Levei um choque: eu, que sempre pensei ter um simples esgotamento nervoso, descobri que era um neurótico havia 35 anos. Ansiei pela chegada da próxima segunda-feira, dia da reunião do N/A. Dia 10 de abril de 1989, às sete e meia da noite, eu estava na sala da Igreja Matriz. Entrei tenso e, entre muitos, suei frio, faltando-me o ar.
Ninguém me forçou a dizer nada, nem a me identificar. Pelos depoimentos, me vi retratado, percebendo então, que eu não era o único a sofrer todos aqueles males.
Meu egocentrismo não me permitia ver o mundo fora dos meus limites. – E como você se sente? Curado? – Sou um neurótico em recuperação. No N/A, aprendi a lidar com minhas emoções, sem nenhum medicamento.
Neurótico não é louco: ele apenas sofre de um desequilíbrio emocional…Renasci, depois de 35 anos de angústias e sofrimentos.
Nunca mais entrei em depressão.
Minha felicidade é imensa, graças a Deus.
A Ele, peço a vida para ajudar e reparar tato mal que, inconscientemente, causei a tantos. Vá assistir à uma reunião. Ela é aberta a todos. O anonimato é mantido.
Eu seria o mais feliz dos homens se conseguisse livrar tantos sofredores desta terrível doença emocional.
24 hs de Paz e Serenidade