No estacionamento do supermercado, esperava no carro. Entediado, claro: meu passatempo preferido não é esperar.
A noite sobre mim me fez pensar que não havia nada para fazer, seria uma noite como qualquer outra.
No carro, nada de interessante: celular sem bateria, nenhuma revista perdida no porta-luvas e nenhum CD para tocar.
Olhar para os lados era a única alternativa. Encontrei outro alguém solitário. Um celular iluminava o interior do carro: uma menina.
Incrível perceber que um olhar, mesmo que sem intenção de atrair, inofensivo e despretensioso, pode tirar o tédio de uma pessoa com tanta facilidade.
Tudo ficou melhor quando seu olhar foi ao encontro do meu, nas pequenas pausas, quando não olhava para a tela do celular. Elas percebem quando são observadas e, às vezes, correspondem. Eu não estava nem aí para o que ela via na telinha do telefone, meu interesse eram seus olhos.
Seriam verdes ou azuis? Marrons ou negros como a noite que nos cobria? Ah! Os mistérios dos olhares que me atraem.
Tive que lidar com minha típica curiosidade, já que não saberia a cor dos olhos que tanto me provocaram. Fiquei atento para interpretar os mínimos sinais:
Se os olhos demoram para vir em minha direção… se eles se encontram… se eles se fixam aos meus… Êxtase!
Os olhos de uma garota me remetem a bolinhas de gude: Quanto mais vibrantes, maior o encanto.
Dizem que os olhos são as janelas da alma. Deve ser por isso que prefiro os de cor verde ou azul: refletem uma certa imensidão, uma paisagem serena, um porto seguro.
Quando se vive no momento de likes, ser percebido pelo outro através do olhar, torna-se privilégio.
No estacionamento do supermercado, esperava no carro, já não mais entediado. A noite sobre mim me fez pensar que não havia nada para fazer, a não ser observar aqueles misteriosos olhos.
Não seria uma noite como outra qualquer. Não era mais uma noite qualquer.