Os bambas do samba

Samba para mim era música que os avós colocavam para ficar rebobinando a lembrança do passado, embalados nas canções de Vicente Celestino, Lupicínio Rodrigues, Dolores Duran… Até o dia em que me peguei colocando um disco de Noel Rosa para escutar de manhã.

Não aprendi samba no colégio, mas sim ouvindo rádio, como na época do sambista Adoniram Barbosa, para os íntimos, João Rubinato.

‘Trem das Onze’ foi o primeiro samba que ouvi. A música soou original para o paulista que sou, eu que pensava que o bom samba era música feita pelos malandros sambistas do Rio.

Com ‘erros’ ao cantar, que o levaram a uma briga gramatical com ninguém menos que Vinícius de Moraes, até os temas de cunho social como a famosa Saudosa Maloca e Despejo na Favela, Adoniran teve sucesso tardio.

Já o famoso malandro do samba, que me encantei por sua pura boêmia de viver foi Noel Rosa.

Grande Noel! Me sinto saudoso ao lembrar do poeta do samba, fundador da filosofia de boteco, o sambista que fez grandes letras, ora sendo malandro, ora romântico.

Foi transgressor, inconformado com a sociedade, seu samba crítico foi  na contramão da maioria dos sambas de sua época, que eram alegres nas canções de carnaval.

Para mim o samba de Adoniran e Noel marcam um período da história do Brasil de sincretismo cultural, consolidando o samba como patrimônio e apontando alguns tipos brasileiros como o malandro apaixonado, o trabalhador, os nossos modos de falar e a valorização da pessoa comum da sociedade.

Recentemente estive em uma das mesas do Bar do Chorinho, que as sextas feiras se torna recinto para aproveitar o melhor do samba-canção e dos bons momentos com os amigos. Com certeza, Noel e Adoniran iriam adorar o espaço, já que mulher, patrão e cachaça, em qualquer canto se acha.