FATORES DETERMINANTES DO COMPLEXO DAS SITUAÇÕES HUMANAS

De uns tempos para cá – e de forma mais acentuada que em qualquer outra época da História, em razão de suas características alarmantes -, vem-se notando no ambiente do mundo um verdadeiro afloramento de inquietações de diversa índole, com traços marcantes de violência, que agitam o espírito humano.

A que obedecem tais inquietações, bem como as repetidas manifestações turbulentas que se promovem de um a outro ponto da terra? Que pensamentos impedem os homens de viver em paz, em harmonia com seus semelhantes e tranquilos com suas consciências e seus interesses? Que germe maligno se introduz nas mentes humanas, fazendo com que elas, em torturantes desvios, compliquem as situações e multipliquem os problemas, quando mais necessárias são as soluções e o entendimento mútuo?

Porventura isso não será devido ao fato de que as almas se intoxicam vivendo nas cidades, onde mal existem espaços que não estejam já ocupados pelos milhões que as habitam? Acaso não estará ocorrendo que a perda do contato com a Natureza, ou seja, com o campo, as montanhas, o mar, pouco a pouco vai insensibilizando os seres, endurecendo seus corações e fazendo com que suas mentes se tornem agressivas? Na verdade, o ritmo celerado da vida, as obrigações de toda classe e as múltiplas atenções impostas pelo ambiente social pervertem, de certo modo, o sentimento que antes caracterizou a vida das famílias, quando não havia tantas pressões para cumprir as exigências do viver diário.

O fato é que existe, por todas as partes, um nervosismo e uma ansiedade coletiva, configurados numa série de curiosos aspectos, e que custa muito acalmar. Diríamos que, tão logo é satisfeita uma necessidade, uma exigência ou um desejo, surgem de imediato outros que, com maior insistência, exigem ser atendidos e resolvidos, muitas vezes em prejuízo da justa medida, das conveniências e do bom senso.

Tudo isso mostra que estamos atravessando um dos períodos mais críticos e angustiosos da história humana. Por todas as partes, percebe-se, como dizíamos, uma situação de anormalidade poucas vezes observada no curso da História. A humanidade parece estar se debatendo num daqueles estados incertos de onde seria possível ascender a um estado superior, que significaria o que vulgarmente se convencionou chamar de salvação do mundo, ou então precipitar-se num caos, cujas proporções é muito difícil predizer. Pensando bem, não é concebível que, sendo a vida humana relativamente curta, haja os que prefiram encurtá-la ainda mais, perdendo-a prematuramente, tal como se vê nas guerras, nas revoltas e nos mil incidentes que a intolerância e a violência causam.

Deveriam ser definidos, pois, de uma vez por todas, quais são os fatores determinantes do complexo das situações humanas, o qual tantos males acarreta, para buscar o remédio, se é que já não foi achado, que ponha fim a tanta desdita e a tanta dor, como a que está suportando o homem, sobretudo nesta última década. É necessário que voltem a renascer a confiança, o entusiasmo e a fé no futuro, e, para que isso ocorra, será preciso trabalhar
intensa e incansavelmente, a fim de conquistar a paz com sacrifício e sem esquecer a compreensão extraída de todos os acontecimentos passados, para poder assim reformar a conduta dos povos, fazendo com que se conduzam sem receios nem desconfianças, com nobreza e dignidade, pelo caminho que cada um deve percorrer do nascimento à morte, cumprindo uma lei que cabe a todos os homens respeitar por igual, precisamente por lhes ter sido imposta para realizar seu destino.

De uma análise que se faça da essência dos fatos históricos, depreende-se que esses fatores determinantes – assim como os problemas que surgem de todo encontro entre a realidade daquilo que é inviolável e a aplicação do critério sobre o que o entendimento considera real para sua conveniência – estão configurados na tendência a desviar-se das leis naturais e das normas fundamentais de convivência pacífica entre os povos. O rio pode transbordar de seu leito natural, porém a realidade o faz retomá-lo, já que não poderia conservar sua correnteza regular fora dele.

Tarde ou cedo a realidade corrige todo desvio que atente contra o que é estável e fixado por leis inexoráveis.

 

Carlos Bernardo González Pecotche Coletânea da Revista Logosofia Tomo I
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