DAS FORMAS DE EXPRESSÃO DO PENSAMENTO HUMANO – A oral e a escrita

Em mais de uma ocasião, tivemos de referir-nos aos diversos aspectos que configuram a linguagem humana. Sabe-se bem que é o meio de comunicação pessoal mais direto. Entre suas formas de expressão, conta com a oral e a escrita. Vamos nos ocupar hoje da última, após fazer sobre ambas uma breve diferenciação.

As palavras escritas não são exatamente iguais às faladas, ou seja, às que se transmitem por via oral, pois estas últimas são escutadas e penetram mais diretamente nas regiões do entendimento. As lidas nem sempre têm por consequência uma imediata compreensão, e não a têm porque, em geral, as palavras escritas são lidas superficialmente, com a atenção posta em múltiplas partes, e em estados mentais muito diversos; daí que às vezes custe tanto entendê-las e, por outro lado, seja tão fácil compreender a palavra que se ouve, pois, ao escutá-la, quase sempre se procura predispor a mente para absorver seu conteúdo.

Quantas vezes são percorridas páginas inteiras sem que se tenha, ao terminar, a mais remota recordação de seu conteúdo! É porque esteve ausente a razão, que controla a entrada dos pensamentos lidos. E assim é como o escrito se converte em letra morta.
Não é questão, pois, de ler por ler, mas de saber ler; saber propiciar à palavra escrita o ambiente mental necessário para que, em vez de converter-se em letra morta, tome contato com a inteligência e produza, como resultado de uma assimilação real, uma compreensão que, se não for perfeita, seja pelo menos a mais acertada possível.

Para isso, é indispensável concentrar a atenção naquilo que se lê e levar bem em conta tudo quanto o pensamento lido expressa à reflexão.

Só assim o escrito pode beneficiar em alto grau a quem lê com paciência e disposição de ânimo, sobretudo se pensa que é uma mensagem que o autor lhe dirige; mais ainda: que é seu pensamento vivo transmitido pela palavra escrita, para que ele, compreendendo-a, a transforme em palavra oral, e os demais possam escutá-la tão pura e nítida como se proviesse de sua fonte original.

Muitas das errôneas interpretações que costumam ser dadas ao que é lido obedecem ao fato de, no momento da leitura, não terem sido tomadas as precauções convenientes para que não houvesse interrupções na passagem do pensamento através dos canais da mente.

Ressaltamos isso para que, ao ler os ensinamentos logosóficos, o leitor não perca tempo em estéreis divagações, e sua leitura não seja fugaz e aparente, mas real, a fim de que possa transfundir-se na própria alma a palavra escrita, esse pensamento que é extraído dela, como essência do conhecimento. Predispondo a atenção e concentrando-a até que, serenada a mente, se manifeste um estado de espírito propício, conseguir-se-á que o conteúdo dos pensamentos logosóficos penetre sem obstáculo, com sua força de expressão, nas regiões do entendimento e da reflexão.

Carlos Bernardo González Pecotche  Coletânea da Revista Logosofia Tomo I

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