Do caderno de rascunhos

Não sei desenhar palavras. Só quando comecei a escrever rotineiramente, aprendi a escrever. Nunca soube, aliás, escrever uma crônica.

Afirmar negações pode levar à concretude dos fatos, por isso rasure a frase acima: soube escrever uma crônica quando me pediram.

Estação dos ipês amarelos. Sempre gostei deles, tanto é que este já é o terceiro texto que faço sobre os ipês amarelos.

Comecei há pouco tempo um caderno de rascunho, a mão, a grafite. Em toda rasura de lápis há sempre uma possibilidade perdida, por isso, decidi falar sobre “somos menos”, algo que rasurei porque achei que não fosse levar a nada.

Somos menos que uma comparação frívola, quando não nos conhecemos. Diante de alguma característica nossa, somos menos possíveis de sermos confundidos enquanto estamos escondidos dentro de casa.

Diante do celular somos menos complexos, diante a memória somos menos necessários.

Não acordo na hora se não for ele, não sei o que comprar no supermercado sem ele.

Não sou meu computador e sou menos produtivo com meu celular na mão.

Tem um fio da maçã da manhã ainda presa entre meu primeiro pré-molar inferior e o segundo pré-molar inferior esquerdo. Me incomoda mais uma pessoa colada no seu celular, do que o barulhinho de uma com uma maçã presa entre o pré-molar inferior e o pré-molar superior.

Damos mais atenção aos detalhes diferentes, de resto, todas as coisas são iguais ao baço, pulmão, fígado e coração, que funcionam sem precisar pensar.

Me desculpem se não gostaram do que fiz, acontece comigo como é com o rim: independente da minha vontade, precisa acontecer para continuar o pulso, o rumo, a via.

Se tudo pode acontecer, se pode acontecer qualquer coisa, uma nuvem aparecer, e nem talvez ser, e por acaso ser você.

Meu café da manhã foi gostoso: tinha uma lagarta no fundo da minha xícara.