As pessoas que nascem com rugas

Talvez você conheça alguém assim, ou você mesmo tem algumas destas atitudes mas nunca parou para pensar sobre isso. E, se já pensou, não admite que seja assim.

Estas pessoas já nasceram enrugadas, vestindo pantufas e reclamando de tudo, não sabem observar a vida por outro ângulo senão o seu. Nunca saem da rotina, frequentam sempre os mesmos lugares por anos a fio, conservam a mesma opinião formada sobre tudo, falam (não sabem conversar, por isso falam) sobre o mesmo assunto de sempre. Para elas, tudo o que há de melhor está no baú do passado, ao mesmo tempo em que esperam que algo espetaculoso ocorra em suas vidas no futuro, já que o presente não lhes traz satisfação.

Os enrugados por comodismo vivem preocupados com a saúde, e por conta disso, vivem doentes. Previnem-se do frio com paletós nas costas e do sol com sombrinhas, não tomam gelado, e cultivam pequenas manias irritantes. Se incomodam com o ventilador, o  ar condicionado, a música alta, as crianças, a multidão, enfim, tudo que sai de sua zona de conforto, sua ´sala de estar´.

São contra a ideia jovial de mudança, e vivem no ´mesmismo´ de cada dia, não têm alegria de viver, passando a maior parte do tempo observando e criticando a vida alheia.

São estranhos achando tudo e todos, estranhos.

Este grupo deve ser analisado com cuidado: são vítimas de si mesmas, não se permitem fazer muitas coisas, com a desculpa de que já passaram da idade ou que não são aptos para fazê-las.

Confesso que eventualmente me enquadro neste grupo, quando me pego ouvindo, assistindo e preferindo coisas do passado, como ainda ter a opinião, de que o verdadeiro rock será sempre ‘o bom e velho’ das bandas que meus pais curtiram.

É impossível parar o tempo e impedir o aparecimento das rugas externas, mas ser enrugado internamente me parece opcional, já que podemos nos renovar a cada dia.

Deixar o xale e a bengala em casa – e correr o risco de se comover com o lado bom da vida -, pode ser um bom Botox.