O amor que liberta e o amor que aprisiona

Nas Constelações, o ponto de partida é considerar o indivíduo dentro do seu sistema familiar e entender, neste espaço – campo familiar –, o seu sintoma, sua questão, seu problema. Seguindo a imagem metafórica criada pela Dra. Ursula Franke Bryson, o indivíduo (cliente) é a Gota, e ele é, ao mesmo, tempo a Onda (o sistema familiar). A Gota não existe sem a Onda e os dois não existem sem o Oceano. Cada um de nós é tudo isso. Somos a essência do todo. Somos conectados com os que estão aqui, presentes, e também com aqueles que nos antecederam em outros tempos e espaços.

Quando fica difícil lidar com um sintoma, a Constelação mostra quanto é difícil lidar com o próprio sistema familiar.  Mas na contrapartida, muitas questões com as quais não podemos lidar no individual, podem ser resolvidas dentro do sistema familiar. Somos a Gota, temos nossa biografia (individual), nossas próprias experiências, mas carregamos as heranças do nosso sistema familiar. A Gota não pode existir sem a Onda.

Na constelação, o genograma dá uma ideia dos acontecimentos no sistema familiar do cliente: quais são as pessoas que pertencem ao sistema quais são os fatos, as situações, os conflitos vividos ali, com os pais, avós, tios, primos e, muitas vezes, ainda além deles, para que um sintoma possa ser aliviado e até desapareça. Tratar de um sintoma do indivíduo-cliente é tratar de uma experiência biográfica impossível de ser acessada plenamente, sem se considerar a geração anterior. O que afeta a um, afeta a todos.

Por ser assim, podemos estar na vida com um SIM, ou com um NÃO. O SIM está relacionado à ação, ao movimento de abertura para a vida; tem função biológica. É um movimento de conexão com o outro para receber da vida. É a curiosidade, o interesse, a busca, a respiração, o direcionamento do olhar mais amplo, mais vasto, é Onda. Assemelha-se à reação espontânea da criança; inclui impulsos e emoções, sempre adequados à situação do momento. Este é o Amor que liberta.

O NÃO é o movimento que não faz sentido na vida atual de alguém. Manifesta-se em forma de sintomas e sofrimentos, dificuldades assumidas do sistema familiar.  O indivíduo pode estar em ressonância com padrões familiares atuais ou de gerações passadas, perpetuados pelo vínculo de lealdade ao sistema. Espelha-se quem está à nossa volta e também quem está na nossa memória inconsciente. Este é o Amor que adoece.

Pessoas há que ficam entre o SIM e o NÃO. Querem autonomia, ser Gota, mas precisam fazer parte do grupo familiar, pertencer, ser Onda. O resultado dessa instabilidade pode ser insegurança, medos e se manifestar em forma de sintomas diversos, como dificuldade de relaxar, por exemplo. Então questionamos: Por que é assim?  Podemos imaginar qual o efeito disto na respiração, músculos, articulações, no fluxo sanguíneo, no sistema imunológico, para ficar no indivíduo, na Gota. Quando incluímos o outro, a Onda, pode haver dificuldades de relacionamento pessoal, dificuldades profissionais e de prosperar, dentre tantas outras.

Há muito para aprender e aprofundar, quando trabalhamos com os sintomas do cliente e são necessários óculos sistêmicos para saber distinguir o que é da biografia dele e o que é do seu sistema, que precisa ser desvinculado. Nesse sentido, quando olhamos para o cliente, é necessário ir além dele.  Procuramos nele a presença do outro. E quando encontramos essa presença do outro no cliente, o passo seguinte é fazer com que o cliente perceba essa presença do outro nele. Trata-se de enxergar o outro com as lentes do outro, sem julgamento. Porque o movimento em direção à cura é sempre dentro de um contexto mais amplo. Este é o sentido da metáfora da Gota, da Onda e do Oceano. É reconhecer e dar lugar ao Amor que aprisiona e ter a permissão do sistema para fazer o movimento em direção ao Amor que liberta gerações atuais e gerações futuras.