Ao carteiro, com carinho

Sr. Carteiro, esta carta é para você que sempre traz na porta de casa os boletos de contas e eventuais cobranças para pagar. Foi por sua causa, meu caro, que fazer compras on-line passou a ter graça, e assim bate aquela ansiosa – e gostosa – felicidade de aguardar a sua chegada, de boné e prancheta na mão, carregado de nossos pacotes de eletrodomésticos, livros e tantas outras felicidades materiais que o dinheiro pode comprar.

Reconheço que não é fácil o ofício quando vez ou outra o latido do Rottweiler da mulher do Bela Vista te assusta, quando nestes tempos chuvosos, ao passar pelo chorão da calçada da dona Helena, leva um banho que te faz relembrar do pé d’água que caiu ontem à noite.

Tem uma tarefa preciosa a fazer, quando, dentro de alguns destes envelopes pardos que carrega em seu malote, se encontram páginas escritas a mão, relatando novidades e saudades, anseios de reencontros dos amigos, que, ao escreverem cartas uns aos outros, preservam a prática manuscrita de se traduzir os gostos em comum e confidencialidades mútuas.

Sim meu caro, ainda existem românticos que enviam cartas uns aos outros.

Diferente das mensagens de aniversário feitas de pixels pelas redes sociais – descartáveis e esquecíveis pelo próximo dia – as cartas de papel e caneta servem também a memória, selada pela dedicação dos minutos reservados para escrever.

Me lembro quando você, além de guardião de confidências e declarações, era também o mais indicado para perguntar onde ficavam ruas, bairros e becos perdidos, escondidos pela cidade afora, numa época em que GPS era somente uma bugiganga de James Bond.

O interfone toca. Paro de escrever, crente de que é o dito cujo, o Hermes dos Tempos Modernos, o furgão mais simpático do Brasil. Relembro rapidamente os números do meu CPF para autenticar minha entrega. Atendo o interfone: ‘’pois não!?’’ ‘‘Entrega para Emanuel Madeira Maschietto’’.

A glória! Para quem não sabe conter a ansiedade de duas semanas pela espera de uma compra on-line! A glória, enfim!