/Quanto tempo? //

Quanto tempo ainda preciso para a saudade cessar de reverberar? Por quantas horas, dias, meses, até se acalmar e tocar a vida?

É mais fácil dizer sobre o que foi e o quanto foi gostoso, do que nos momentos quando se estava tudo bem. Agora que já era, todas as soluções aparecem, eu devia ter ido te ver, te dado atenção, carinho e afeto.

O leite derramado está enlagrimado, e tenho de parar de lamentar senão ele talha, aí é um ano para sair o cheiro azedo da cozinha.

Porque é sempre tão difícil esquecer? É… a canção estava certa: fácil de falar difícil de fazer. Só o tempo sabe quanto tempo ainda têm para nos recompor.

Sabe não? Ciúmes é uma fofoca do diabo… É, ele chicoteia o rabo, passando através dos nossos sentimentos e cutuca a mais preciosa lembrança que lateja aguda de dor. É o carinho sangrando.

O afeto se torna pano de chão na entrada do corpo, espalham cacos de vidro por todo o chão, machucam os pés.

Acho que te vi conversando na frente do supermercado. Tinha certeza de que te vi ali na ponte, atravessando a rua para a papelaria, como de costume, indo pegar um jogo de aquarela.

Aquela hora, eu com a cabeça na oficina que estou montando, não hesitaria nem pensar que já não pensara mais sobre as razões para pintar, agora, uma vida pastel. Correria em direção a você, te abraçaria e te pagaria um café, porque o pão está caro e a barra pesada, não parece direito ficarmos sem ter um amigo para conversar.

Os dias permanecem claros, o sol ainda raia apesar do outono, sem frio. Mas eu ainda sinto muito.

Eu sinto muito. Sobre o que foi, o que deixamos de fazer e sobre o que fizemos. Sinto muita saudade da liberdade de nossos assuntos, da tua companhia e da nossa parceria.

Sinto muito pela falta que te causei, por minhas pedras que te machucaram, pôr o que não sou. Minha imaturidade sentimental foi o fiasco.

Se tudo pode acontecer, aconteceu e eu jamais vou te esquecer, não tem como, somos muito quando somamos.

Por mais quanto tempo ainda ressoará o cheiro que sinto quando lembro de você.