A realidade esquecida

Diante dos vários livros que já li¸ Philip K Dick me conquistou por ser um nato contador de histórias.

O visionário futurista em um dos seus memoráveis livros “Fluam, minhas lágrimas, disse o policial” apresenta o que é perder o chão da realidade, e passar da popularidade ao desconhecimento.

O livro foi escrito em 1974 e o assunto nunca foi tão atual. Talvez porque suas previsões políticas sejam tão exatas. Ou porque sua loucura não seja tão esquisita assim, e que nossa noção de realidade muda como um dado, dependendo do ponto de vista que estamos nos é apresentado um lado.

Aceitamos tudo ao nosso redor? Selecionamos o que gostaríamos daquilo que a internet, a mídia, o entretenimento e a arte nos oferecem? Ou somos levados a consumir os produtos por ondas elétricas de uma influência, que flui pelos ares, nos conduzindo a ser, ter e fazer, conforme um grupo X ou Y?

Um assunto peculiarmente tratado no livro é o quanto estamos presentes em uma realidade a partir de nossa própria identidade. Ou seja, o quanto somos influenciados por o que nós mesmos acreditamos, ou somos direcionados a acreditar, baseado na condição social que vivemos, para tomar as atitudes que fazemos.

Muitos são os temas tratados neste livro, mas o que mais marca é o quanto nossa identidade tem presença na nossa leitura de mundo.

O personagem, que era uma pessoa reconhecida na televisão e música, quando perde o reconhecimento total se descobre como indivíduo, e mesmo a trama se revelar surpreendente no final, o livro é um tapa na nossa cara para a utilização de redes sociais, do mundo das celebridades, entre muitas outras coisas.

Os livros de Philip K Dick são de ficção científica. Não como a do cinema, que já nos leva a imagens ultra futuristas, mas de discussões da nossa realidade em um habitat tecnológico, a ciência de sua ficção está nos objetos, e seus livros tem como pano de fundo muita filosofia.

Como está nossa relação com as redes sociais? O real objetivo dela era de aproximar pessoas? Reunir peculiaridades, e veja o que aconteceu: comércio, personalismos, versões androides de nós mesmos.

Sabemos nos reconhecer quando também nos colocamos pelo bem de todos. A realidade dos fatos se tornou individualizada e tem um apelo a ser comum. E o mais impressionante, e bizarro, e maluco, é que Philip K Dick apontou isso em seu livro em 1974.

Não é um livro para levar susto como os de Stephen King, mas, se pensar um pouquinho, é sim, livro de terror. É só preciso abrir os olhos.