ANTÔNIO MARIA; CRONISTA

Antônio Maria

Sob as luzes baixas das boates e cassinos cariocas dos anos 30, nos fundos da boate Vogue, se encontrava o centenário Antônio Maria, marcando presença nas noites cariocas.

Para começo de conversa, para mim Antonio Maria foi somente um nome dentro da biografia de Danuza Leão, quando, cansada da turbulenta vida em seu casamento com o famoso Samuel Wagner, o figurão por trás do jornal Zero Hora, a modelo se aconchegava nos braços do cronista, para chorar suas tristes pitangas.

Se floresceram textos sensíveis das lágrimas da modelo, ninguém ficou sabendo.

Antonio Maria também era, frequente colaborador dos jornais mais prestigiados da época: Manchete, Última Hora e O Globo.

Além de seu excessivo peso mínimo de quase 200 kg, se expôs nas várias colunas e letras de sambas-canções compostas em parceria com Dolores Duran e Sylvia Telles, interpretes de todas as suas dores de cotovelo.

O cronista tratou da solidão como ninguém, sempre tendo o devido respeito que o tema pede.

(…) ‘’ cá estou, porém, nesta janela que não deixa mentir, em frente à noite de que sou uma espécie de filho de criação, a repassar de lembranças de uma moça que, de mim, se muito recordar, recordará meu nome. (…)

A qualidade lírica, quase dramática, que suas crônicas têm, é influência da música em seus textos.

‘’(…) [as crônicas de Antonio Maria foram um dos mais agradáveis exercícios de leitura que os jornais do Rio já entregaram a seus leitores. Tinham humor, vivacidade, clareza, e davam a impressão, pela facilidade de leitura, de que também tinham saído de um jato, espontânea]’’ reconheceu Paulo Francis, certa vez.

Em vida, nunca obteve o reconhecimento merecido, recebendo constantes ataques regionalistas. Mesmo assim, se tornou na época, o único cronista de ascendência negra, a ter relevância social. Sua famosa frase, rebatia como peixeira de feira: ‘’ claro que eu sou mulato. Mulato não é insulto, é constatação. ’’

‘’Ama-se, angustiadamente, o vestido pendurado da amante ausente. E haverá mais verdade na companhia desse vestido (morto como um vestido) que adiante, nos braços de uma nova mulher’’.