A platéia só é respeitosa quando não está a entender nada

O medo já não me apequena, a chuva não me molha, o sol não me queima. Sinto-me tão vivo que parece que todos ao redor estão jaziam mortos por eras. Vivo a desgraça de estar descobrindo a essência das coisas, da vida, do existir.

Os filósofos sempre desconfiaram que beber da fonte do conhecimento produz um mal estar. Acabo de subir uma montanha, subiria durante toda eternidade somente com a companhia do meu ser, dos meus pensamentos, dos meus devaneios, dos meus sonhos em pleno meio dia.

Caos, minha mente é caos, a chuva não me entristece, a madrugada não me adormece. Cigarros, maços de cigarros, a cinza se engrandece, se espalha. Calma, limpo a cinza, deixo o cigarro, minha mente é calma, como um rio.

Os olhares não me incomodam, continuo digitando. Freud explicaria, é meu Id escrevendo, meus demônios internos, meus medos, inseguranças. A chuva parou, se fosse poesia eu escreveria sobre um arco-íris, mas eu escrevo sobre a vida como ela é, e o céu continua nublado lá fora, aqui dentro todos continuam mortos, aqui dentro deste telhado físico, pois dentro de mim, todos meus seres pulsam vida.

Talvez esteja vivendo o que Platão chamaria de Eros, desejo, pulsão, amor. Confusão, minha mente é confusão. Talvez porque eu não acredito no amor, ou melhor, é tão real diante dos meus olhos que tenho que me render a acreditar . Talvez seja esse o problema do mundo, somos ensinados a duvidar do amor mesmo ele sendo tão claro diante das retinas.

Talvez esteja vivendo o que Aristóteles chamaria de Philia, a felicidade, a alegria. É a luz do sol depois da madrugada, é o bom dia daquele estranho passando pela calçada, e a vida que sinto digitando essas palavras, são os meus demônios internos que não se calam. É o encosto do divã, é falar sem se preocupar com as consequências.

Já não me importo com a estrutura do texto, talvez escreva isso acreditando que você leitor se importa, mas a verdade é que já não me importo se você se importa. Não me leve a mal, os poucos olhos que percorrerão essa página vão me entender, aos que não entenderam meu singelo obrigado. Nelson Rodrigues já dizia que a platéia só é respeitosa quando não está a entender nada.

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