/Um divã para Pondé //

/Um divã para Pondé //

Foram tantos os motivos que tive, para discordar de você. Passei horas lendo suas obras, colecionando suas picuinhas ficcionais e raciocinando suas razões, para continuar desconfiando de suas irritáveis e incontestáveis convicções.

Fui um fiel leitor, e um fiel ouvinte chato e crítico de sua pessoa para continuar a louvar-te, meu malvado favorito.

Mas você mudou Luis Felipe Pondé. E não foi por causa da vã filosofia deste cotidiano louco que vivemos. Não foi por causa de sua desconfiança serial: seja com os ‘’limpinhos’’ sexualmente ativos, ou com os ‘’100% fieis nos relacionamentos’’. Como também não foi por seu índice de popularidade, esta reputação catedrática intelectual que cultivas dentro da vida pública.

Não, não, não, não foi por nada disso.

Você aceitou o tempo, enfim se rendeu a algumas irreversibilidades, diante as possibilidades positivas, que a vida apresenta.

Deixou um pouco da veia rodriguiana mordaz.

Pondé: O que é a vida? Não é mesmo chata esta pergunta, sendo que nem a psicologia, nem os conhecimentos que buscam uma compreensão próxima da verdade conseguem responder?

Você atirou a toalha no campo, antes do jogo finalizar. Sábia decisão, mesmo tendo deixado a barba crescer para parecer, talvez, Freud!? Platão!? Aristóteles!?

Confesso que não te acompanho na mídia impressa, mas segundo um amigo fanático por você, você continua ideologicamente igual.

A velhice, pelo menos um pouco, te fez bem? Talvez…

Claro que não deixa de ser ácido, continua a adorar Nelson Rodrigues, ainda crê na impossibilidade de milagre no comportamento das pessoas.

Pondé, eu sou aquele felizinho insuportável que tanto critica, então creio piamente sim, na possibilidade de mudança de comportamento por conta dos efeitos externos.

A evolução é incontestável e inegável. Como o Francis diria: ‘’Qualquer pessoa inteligente é contraditória.’’ Por favor caro filósofo, agora que te adoro, peço que não me decepcione.