A realidade do próprio mundo interno

A realidade do próprio mundo interno

O mundo interno está formado por nossa vida mental e psicológica, por nossa consciência, pelos pensamentos e pelos sentimentos que atuam na região sensível de nosso ser.

Nada existe de mais real e mais positivo, dentro das possibilidades humanas, que a prerrogativa estimulante de conhecer o próprio mundo interno.

Evidentemente que não se trata apenas de admitir verdades. Trata-se de penetrar nelas com o entendimento e, para isso, temos de nos valer de todos os elementos que conformam harmoniosamente a unidade dessa verdade, mesmo quando tais elementos apareçam dispersos.

 

A ninguém está vedado criar para si o mundo interior

Esse mundo não abarca unicamente a própria vida, senão que a ele pertencem os seres que amamos, as coisas que nos são queridas e toda manifestação que mantenha contato permanente com nosso pensamento e nosso sentir. Nele são vividas as emoções que a alma experimenta, sejam elas doces ou amargas, com plena consciência de suas causas; vive-se com os pensamentos, e esse íntimo contato com eles serve de poderoso estímulo para as funções que devem ser desempenhadas em favor da própria vida e, também, dos seres vinculados a nós mesmos, que deleitam seus espíritos com o bem que lhes oferecemos. Quando esse mundo já se acha constituído, jamais se está sozinho, e sempre sobra tempo para auxiliar aqueles a quem seja necessário ajudar.

Nessa fronteira íntima que demarca os limites do mundo interior, cada alma reina soberana. Penetrar nele sem o consentimento expresso de seu dono é negado ao homem; e, mesmo contando com ele, terá de limitar-se ao que lhe seja possível compartilhar. Esse mundo torna-se um paraíso quando se sabe cuidar dele, quando se sabe protegê-lo de toda intromissão estranha; e um inferno quando se permite, faltando às normas que a discrição impõe, que ele fique exposto à avidez alheia.

A vida interna é inviolável; sua virtude é a discrição, que a ampara contra toda eventualidade; seu encanto está em seu segredo, que somente o dono dessa intimidade conhece e desfruta.

Somente nos internando dentro de nós mesmos é que se torna possível conhecer nosso próprio espírito; e a consciência que cheguemos a ter de sua realidade e de seu poder nos ajudará a abrir passagem e a andar serenamente pelo mais formoso dos caminhos.

Extraído do livro O Senhor de Sándara, pág 289, 290, 238, 372 e 484