Criar Expectativas

Recentemente me peguei em uma calorosa discussão defendendo um ex-namorado que, por sinal, não vejo faz tempo e nem tenho notícias. A história é rápida: uma colega se relacionou com o mesmo indivíduo e, após algum tempo, essa tentativa de “para sempre” se frustrou e ela, ainda machucada, resolveu injuriar o rapaz sem que este estivesse presente para se defender. Ah, o “sangue brotou nos zóio” no mesmo momento! Como assim alguém pode culpar o outro pelas suas escolhas e expectativas não corresponderem a realidade? É claro que existem casos de patologia em que o outro engana, mente e faz coisas que não é legal sem sentir remorso algum, mas não é esse o caso.

Contei esse fato para ilustrar o papo de hoje: a expectativa que jogamos no outro.  É claro que sentir-se motivado é importantíssimo para manter-se saudável, que precisamos criar expectativas para nos movimentarmos em direção a algo, entretanto, não podemos perder o contato com a realidade. Desejar o que depende única e exclusivamente de nós mesmos é uma boa forma de ser feliz e realizado. Se quero estudar, trabalhar, comer, viajar, conhecer um lugar, entre tantas outras possibilidades, sei que minhas chances de conseguir são muito maiores do que as alternativas que envolvem outras pessoas. Me envolver com alguém esperando que essa pessoa retribua meus sonhos é uma enorme perda de energia e um provável caminho de insatisfações e frustrações. O outro é sempre imprevisível, é sempre O OUTRO e está completamente fora do meu campo de ação (muitas pessoas preferem, inclusive, o termo domínio) e isso é maravilhoso, é o que constitui a diversidade. A palavra respeito se encaixa exatamente aqui. Cada um tem uma forma de sentir, de interpretar o mundo, tem seus desejos próprios, suas exclusivas necessidades e, o mais importante, está sempre em processo de mudança – mudamos todos os minutos de nossa existência. Isso remete ao fato de que hoje quero assim, mas amanhã posso querer assado e não há problemas quanto a isso.

Relacionar-se com outra pessoa é saber que mesmo estando lado a lado, cada um tem seu próprio ritmo, sua própria forma de caminhar e ninguém pode interferir no movimento do outro. Implica, aqui, dizer que nossas expectativas são só nossas e, portanto, devemos sonhar alto em relação a nossa vida privada sim, mas manter os pés no chão quando os desejos envolvem desejos de outros. A mudança sempre é inevitável – ninguém continua sendo o mesmo que foi há dez anos atrás.

E quando o outro quer a separação? Desesperar-se? Dói, sei que dói profundamente, mas essa fase de dor também faz parte das mudanças e do movimento da vida. Por mais que queremos o impossível (porque se depende da vontade do outro e a pessoa não quer, é impossível sim – pelo menos no agora), cabe a nós respeitar a outra opinião, nos respeitarmos e cultivar nossa auto-estima. Voltando àquela historinha do início, não é muito saudável vitimizar-se, ficar presa a sentimentos ruins e muito menos criar coisas que não existiram para sanar a dor. Respire fundo, use o tempo que for necessário para se curar, não se apresse, focalize sua energia para criar coisas boas que só dependam de você, nunca se esqueça que todos são seres humanos e podem errar (mais uma vez lembrando, estamos falando de pessoas sem patologias que comprometam as relações humanas), reencontre o equilíbrio e viva em paz, por que a vida é isso: um movimento dialético infinito, em que ora estamos equilibrados e ora perdidos. Esse é o caminho do amadurecimento e da verdadeira felicidade.

Paz!