A cobiça é insaciável; ela inferioriza as qualidades e condições do ser, sendo considerada uma das deficiências mais negativas e perturbadoras. Desvia a capacidade de criação da inteligência, alterando o exercício de suas faculdades e das faculdades do sistema sensível, já que o cobiçoso as coloca ao exclusivo serviço de seus afãs de lucro e posse, único fim de sua vida.

Esta deficiência provém de uma obstinada desconformidade, que açula os sentidos para um desejar contínuo de coisas, mesmo daquelas que estão muito distantes das próprias possibilidades e, portanto, fora de alcance. Esta última circunstância, longe de persuadir a pessoa da conveniência de abandonar seu ambicioso afã, buscando no esforço sensato a medida que regule seus desejos de ganho, precipita-a numa ação ainda mais veemente e insaciável.

A cobiça é um prurido psicológico que o afetado em nenhum momento trata de anular; ao contrário, ele o mantém, pois lhe causa um prazer – mórbido, entenda-se. Como pensamento enquistado na mente, influi poderosamente no ânimo do ser, que, para acalmar sua repetida incitação, se lança obstinado em busca de maiores bens ou de novas e alucinantes posses.

Entre os cobiçosos, observa-se o caso daquele que deseja com ardor o alheio, sem consegui-lo nunca. É assim que surge o ressentido com o próprio destino, ao qual acusa de favorecer em excesso os demais, deixando-o de lado.

Frequentemente a cobiça convive com a inveja, sendo então maiores seus estragos, porque atormenta a vítima com a visão do bem ou da riqueza de outros.

Esta deficiência, ao viciar as faculdades da inteligência e da sensibilidade, passa a exercer pleno domínio sobre a vida, vendo-se por essa causa que ela aparece, em inumeráveis casos, como principal instigadora de atos delituosos: espoliações, fraudes, furtos, violências.

Aqueles que já chegaram à obsessão não haverão de ser os que busquem elementos para a própria recuperação, mas sim aqueles que, menos afetados e conscientes do prejuízo pessoal, procuram livrar-se dessa deficiência. Fará bem a estes recordar que a vida humana não foi feita para se amontoarem riquezas materiais.

Se esta deficiência nos impulsiona a desejar aquilo que outros conseguiram para si, oponhamos a tais instâncias o sentir honesto que modera as miras ambiciosas.

Só a honestidade poderá evitar o extravio a que a cobiça conduz. Como antideficiência, age com empenho e sem violência, levando a pessoa a ampliar seu raio de ação psíquica e a buscar, nas fontes do sentir e do pensar honestos, a força sustentadora que a fará superar tão defeituosa inclinação humana.

Texto extraído do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, pág. 120