A edificação de uma nova sociedade

CARLOS BERNARDO GONZÁLEZ PECOTCHE – RAUMSOL

A Logosofia sustenta que todo processo de melhoramento social haverá de fracassar se antes não se encara o problema do indivíduo, isto é, se ele não é formado sobre a base de uma disciplina interna que o eduque psicologicamente para prestar serviços à sociedade sem ser absolvi­do por ela, evitando assim o truncamento de sua independência de juízo, concretizada em sua liberdade moral e espiritual.

homem-massa é um ser anulado, que deve obedecer cegamente às diretrizes de sua agremiação ou sindicato, que por sua vez obedecem, como se vê em todas as partes, a diretrizes políticas. Em tais condições, como pode melhorar a situação dessa massa de homens apegados a rígidos comandos, se individualmente eles não têm perspectiva alguma de melhoramento?

Sua única esperança está voltada para o que a massa conquiste, mais por força de violências do que pelo esforço regulador da produção. É que o melhoramento indiscriminado de todos os que integram a massa desalenta os capazes, os empenhados que anseiam lavrar para si um porvir. E é natural que o nivelamento dos salários produza, instantaneamente, uma quebra no trabalho consciente dos melhores, incidindo esse fato no maior custo da mão-de-obra, que aumenta em consequência das reivindicações trabalhistas, através das quais se pensa, com ilusão, escapar do inferno da inflação.

Quando o ser humano desfruta as prerrogativas de sua liberdade e é consciente disso, sente-se firmemente inclinado a es­tender esse benefício a seus semelhantes

A Logosofia lhe ensina isto, razão pela qual os bens morais, espirituais e econômicos que representam essa conquista são estendidos a cada um dos integrantes da massa anônima, para serem compartilhados, com o objetivo de que eles recuperem a independência e a liberdade perdidas. Poder-se-á objetar que os resultados dependem de um lento processo, mas ninguém ousará desconhecer que, por esse meio, se avança para a conquista efetiva e real de um futuro promissor para o homem.

As conquistas sociais são tão efêmeras que os trabalhadores se veem obrigados a lutar sem tréguas, sempre pelas mesmas razões, sem alcançar com seus triunfos um equilíbrio estável em seus orçamentos. Ao contrário, o homem que se instrui com nossos conhecimentos e compreende que nele mesmo reside o meio de obter as melhorias que antes esperou da ação coletiva de suas agremiações, não perde mais tempo nisso e logo supera sua situação, sentindo-se como se vivesse em outro mundo. Em realidade é assim, porquanto já não vive naquele mundo de angústias, de nervosismo e de esperanças frustradas. Agora, só confia em suas forças, adestradas na capacitação consciente de seus recursos internos. De operário, converte-se em patrão de si mesmo. É ele quem aumenta seu próprio salário, através do esforço particular, com vistas à sua emancipação integral.

No dia em que se propague esta compreensão básica do que cada homem pode fazer em seu benefício, veremos como o exemplo ganhará a adesão de todos, e como os problemas sociais, hoje insolúveis, desaparecerão. Haver-se-á conquistado, então, a verdadeira paz social, aquela que todo homem deve primeiro alcançar individualmente, para depois estendê-la ao conjunto.

Texto extraído do livro Curso de Iniciação Logosófica, par. 158-161