Pedro Bloch, Médico e Escritor

Pouco se fala hoje dele, o teatrólogo brasileiro mais representado no exterior, mais do que Nélson Rodrigues, Dias Gomes ou Joraci Camargo.
Pedro escolheu ruim época para morrer – em plena semana de preparativos para um carnaval.

Ucraniano como Clarice Lispector, veio para o Brasil com oito anos (1922), formou-se médico e especializou- se pioneiramente em fonoaudiologia, sendo o responsável pelas boas falas de Roberto Carlos, Chico Anísio, João Gilberto, Gal Costa.

Grande sucesso foi Dona Xepa, a lutadora mãe de família que só ia às compras da feira no final do expediente dos feirantes, para pagar bem menos pelas sobras (= xepa) de verduras e hortaliças. Sei do caso de uma culta e gentil senhora aqui da cidade que, em outros tempos, também ia fazer a feira no Mercado depois das dez da manhã, quando muitas bancas já nem funcionavam mais. Por muito tempo, ganhou o sugestivo apelido de Dona Xepa.

Nenhum texto de Pedro Bloch viajou tanto pelo Brasil como As mãos de Eurídice, monólogo de onde se originou a fama nacional de Rodolfo Mayer, que de cidade em cidade recontava sozinho com sua voz de veludo a triste história de uma Eurídice que não suportou a vida desregrada e muito louca de um sujeito viciado no jogo, na bebida e o abandonou. Acabou sendo morta por ele. Vi e ouvi Rodolfo Mayer matar Eurídice aqui mesmo em São José, no antigo Pavilhão XV de Novembro, nos recuados tempos em que a cidade não ficava tão à margem de excursões que artistas consagrados faziam pelo interior paulista.

Bloch escreveu mais livros, dentre eles um em que recolhe os pensamentos de crianças atendidas por ele como médico. O mais delicioso conta a surpresa da menininha ao ver uma pá mecânica limpando os últimos vestígios de casa demolida.
Comenta com o pai:
— Olha, papai, estão acabando de construir um terreno!