Depoimento: Minha culpa, minha máxima culpa.

Sempre me senti culpada quando outra pessoa tinha problemas. Era como se eu tivesse o dever, a árdua função de resolvê-los. Foi assim em relação a um irmão dependente químico, como foi assim em relação a qualquer pessoa de meu relacionamento.
Minha necessidade de resolver os problemas dos outros chegou às raias do sacrifício pessoal. Acreditem ou não, em uma ocasião, eu cheguei a me endividar para saldar a dívida de outra pessoa. Em outro momento de minha vida, sem qualquer razão plausível, me comprometi ao pagamento de mensalidade cobrada por certa faculdade, para que uma conhecida, sem qualquer afinidade comigo ou mesmo amizade à época, pudesse cursar o nível superior.
Insanidade! Hoje percebo claramente o quanto a minha postura diante do problema do outro era doentia. Houve momentos em que eu tinha consciência de que a minha conduta não era apropriada, mas eu não conseguia me desvencilhar daquele padrão.
Era maior do que a minha vontade de não repetí-lo. Era como um vício emocional. E tudo porque eu não me amava. Eu não me valorizava e queria ser valorizada pelo outro.
Trazia para minha responsabilidade a vida e os problemas do outro, deixando de viver a minha própria vida e de cuidar daquilo que merecia ser cuidado: meus próprios problemas– os quais eram muitos. Eu não sabia que se tratava de codependência. Aliás eu jamais tinha ouvido falar de codependência, antes de N/A. Mas a partir do momento em que identifiquei esta veia de minha doença emocional, ficou mais fácil combatê-la e neutralizá-la. Muitos companheiros de N/A, através de suas temáticas e depoimentos, fizeram-me ver que a preocupação excessiva com os problemas dos outros não passava de uma máscara que encobria a minha natureza egocêntrica. Os companheiros e a programação de N/A fizeram me ver que a tendência de querer ajudar o outro, sem ser solicitada a fazê-lo, simplesmente por me sentir responsável pela felicidade alheia, nada mais era do que uma tentativa de controle. Eu ouvi, recentemente, o CD de N/A – Desligamento Emocional da Codependência, onde a companheira fala com muita propriedade que existe uma linha tênue entre o amor e o sentimento de posse. Não pude deixar de me espelhar na fala da companheira. Realmente, meus relacionamentos não foram amorosos, mas possessivos. Quando eu trazia para mim os problemas dos outros – movida pela culpa, eu apenas desejava, com a minha pseudo-ajuda, manter as pessoas ao meu lado; dependentes de mim. E tudo isto por quê?
Porque eu queria que as pessoas acreditassem que seria impossível viver sem mim e esta era a forma de me fazer aceita e admirada.
E por quê? Porque eu tinha necessidade de ser valorizada pelo outro, já que eu não encontrava em mim mesma, qualquer razão para me amar e me valorizar. Com o autoconhecimento adquirido através do Programa dos Doze Passos, passei a conquistar a auto-estima necessária para não mais me considerar responsável pela solução do problema do outro, mas tão-somente pela solução do meus próprios problemas.
É óbvio que eu me preocupo com o outro e o ajudo, mas agora levada pelo verdadeiro sentimento de solidariedade e sempre de forma a não me prejudicar. Quando aceitei a minha impotência perante o outro e mergulhei de cabeça na programação, aconteceu o milagre: eu estou conseguindo me libertar da codependência. Mas esta libertação eu não a conquisto sozinha. Eu só a alcanço com a ajuda de Deus, na forma em que eu O concebo. 24 hs de Paz e Serenidade.