A mulher sem pecado, sem vontade, sem alma

Ler teatro é uma experiência agradável e veloz. Shakespeare, Mônica Martelli e outros grandes nomes da dramaturgia nos proporcionam momentos de prazer em grandes teatros ou em casa, no cantinho preferido, com um livro na mão. No Brasil, o grande revolucionário e renovador do gênero foi Nelson Rodrigues. Com sua forma politicamente incorreta de criar, aprofundou na questão do desejo humano: seja ele em traições, bofetadas, incestos, pederastia, estupro ou um descontrolado e doentio ciúme. Como escreveu certa vez “Toda mulher deve apanhar. Você pode não saber por que está batendo, mas ela sabe por que está apanhando.”. Sim, é uma frase extremamente machista, mas esse mundo de neuroses, doenças e esquisitices é o que constitui a beleza amarga de Rodrigues.

Em A mulher sem pecado, escrita nos anos 40 e quase fadada a ser um fracasso de público, pode ser considerada como uma tragicomédia angustiante. A história é de Olegário, deficiente físico e perturbado por monstros neuróticos que o fazem um paranoico. Cheio de medos, inseguranças e grande criatividade, ele inferniza a vida da mulher e do leitor/ público. A peça faz uma análise de uma situação transcorrida em plano real e é vivida na sala da casa do casal.

A grande sacada que acaba prendendo o leitor é que ao tratar de um tema totalmente humano, Rodrigues nos força a criar uma identificação com os personagens e, sem que consigamos evitar, sentimentos como angústia, beleza contemplativa, tragédia depressiva e sufocamento vão nos envolvendo pouco a pouco.

Essa foi sua primeira peça e, embora tenha uma enorme vocação para o moralismo, podemos ver traços com toques completamente imorais em suas peças. Nelson Rodrigues não se limita a escrever apenas sobre a sociedade, ele se aprofunda até os ossos da natureza humana, fazendo uma cirurgia milimetricamente detalhada da loucura, feiura e insensatez do homem.

Abaixo meu canal sobre a obra.

Até a próxima!!!!!

https://www.youtube.com/watch?v=-0qLoGu_5nw