A BELEZA DOS ANTÚRIOS

Casa Branca, cidade querida por tantos de nós, goza de justa fama entre outras razões pelas suas jabuticabas de insuperável aspecto e sabor.
As frutinhas de lá têm tanta negrura e tanta doçura, que até mereceram figurar no brasão e na bandeira do município.

Mas não é das jabuticabas que quero falar, e sim dos antúrios, mais precisamente de uns colossais e coloridíssimos antúrios que minha finada tia Madalena Lauria Horta cultivava no quintal de sua mais que secular casa, com todo o jeito de chácara, preguiçosamente implantada ali a uns poucos passos da praça central.

Obedecendo a rigoroso cronograma, um grupo de amigos lá se reunia semanalmente para travar renhidas batalhas no jogo de buraco. Não era fácil ser aceito naquela seleta companhia.

Daí a alegria do médico recém chegado a Casa Branca que, não tendo ainda a agenda cheia, podia dar-se àquele inocente prazer, porque ao que tudo indicava, só se jogava no mais puro leite de pato.

Nos intervalos da jogatina, os frequentadores do pano verde iam esticar as pernas no quintal imenso e muito bem cuidado. O médico deve ter ficado mesmo maravilhado com tudo o que viu ali, mas se impressionou sobremaneira com os antúrios em sua obscena beleza.

— Dona Madalena, qual o segredo da vivacidade das cores desses antúrios?
Naturalmente ele queria apenas uma explicação quem sabe falsa mas viável, como a fertilidade do solo, a constância do trato, quem sabe até a pureza dos ares, uma receita secreta, coisas assim. Mas minha tia achou que a curiosidade dele merecia melhor explanação. Chegou perto dele e lhe cochichou ele nem imaginaria o quê.

O médico arregalou os olhos, raspou a garganta, ficou muito desenxabido e tratou logo de mudar de assunto.

Eu sei o que minha tia lhe disse ao pé do ouvido, porque ela já me dera com visível prazer a impudica e fantasiosa explicação, mas se eu a contar, a historinha perde toda a sua aura de inocente mistério.