Uma vez livre do vai e vem insano do cotidiano, a reclusão me deixou em um dilema entre a obrigação doméstica e a devoção criativa: Escrever minha coluna semanal ou lavar a pilha de louças acumuladas na pia?
Agora com todo o tempo nas mãos, só penso nas temporadas esquecidas do Netflix que poderei finalizar, no texto esquecido na gaveta que poderei rabiscar de novo, dos grooves do Ted Reed para estudar e que, poderei zerar de uma vez por todas, o postergado jogo Lego Harry Potter.
Entre a bendita dúvida libriana, ‘ter’ e ‘querer’, a realidade dos fatos me invade com o sussurro da doce voz de mamãe no fundo da caverna da consciência, ditando a clássica frase que pôs responsabilidade em nossas vidas: ‘’primeiro a obrigação, depois a devoção…’’. Dá até para ouvir o eco das palavras. Palavra de Mãe, palavra final. Amém a nossa boa educação!
Mas e o que queremos? E a nossa liberdade vinda com a maioridade? Mil planos fora desta realidade rolando em stand-by no cabeção, e a crônica aqui, parada, sem ser feita e o tempo passando… E o Netflix então? Esse só vai rolar depois de ter deixado arrumado e limpo, a minha parte da agenda, agora doméstica, de manter o relativo funcionamento da casa.
Depois de ter lavado a louça e de dar carinho e comida aos bichanos, cá estou novamente, tomando minha dose de remédio antimonotonia e reclusão, comumente chamada Literatura.
O mundo que até então nos exigia dedicação total na intensa jornada de trabalho, agora pede um pouco mais de paciência. O jogo virou, e assistimos de camarote, no olho do furacão, mudanças quanto a flexibilidade das pessoas
O lado bom da quarentena é usar deste tempo para repensar o que fazemos, enquanto não fazemos o que vinhamos fazendo habitualmente. O momento se torna propicio para mudanças, para mais reflexões sobre os nossos propósitos, a forma como nos relacionamos com as pessoas.
Depois da quarentena, não restará mais dúvidas do que fazer. Até a volta da normalidade, este texto já estará finalizado…