Pelos bigodes de Leminski!

Corram para as colinas, chamem o gerente, o homem do tempo, o síndico! (Será que ando ouvindo muito Tim Maia?) Não sei aonde que eu estava por não estar sabendo que o poeta-samurai brasileiro estava completando 75 anos! Valeu revista Cult, você me salvou de um afogamento em informações cibernéticas!

Paulo Leminski e suas palavras foram de uma intensidade criativa na poesia brasileira sem igual! O intelectual com cara de bicho do mato, foi finalmente colocado diante dos holofotes em meados de 2013, quando relançaram sua obra poética completa, sendo, sucesso de vendas nas livrarias brasileiras na época, com mais de 170 mil exemplares!

O maior barato da poesia do cara, é que seus hai kais são rápidos e precisos como espada de samurai, se tornaram criativos drops de frases bem sacadas para se usar na rotina.

E a precisão do polaco era intencional, segundo ele disse nas inúmeras vezes que revi vídeos seus, falando sobre poesia e escrita. Buscava na precisão da palavra, a boa sacada.

em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

É impossível escrever sobre poetas sem colocar suas poesias, assim como é impossível falar sobre Leminski e não citar seus bigodes. Junto com sua poesia, os bigodes do poeta se tornaram sua marca registrada, assim como foi com Nietzsche, Einstein, Groucho Marx ou Dali.

Sem seus bigodes, estes sujeitos seriam muito ordinários, neste caso, são a marca registrada de suas geniais potencias criativas.

Tenho admiração a quem usa bigodes, não é para todos que adornar esta moda vintage fica bem. Eles explicitam serem donos de si mesmo, fazem parte de um papel importante em sua personalidade.

Amar é um elo
Entre o azul
E o amarelo

Voltei a ler Leminski por conta de texto em sua homenagem. Como é bom voltar a quem te inspirou a escrever, a descobrir o mundo da leitura e da imaginação! Tudo o que ele escreve é poesia, é incrível de se perceber…

Para quem lê, parece que para o poeta, a poesia é tão natural quanto respirar.

Fazia poesia
e a maioria saía
tal a poesia que fazia
fazia poesia
e a poesia que fazia
não é essa
que nos faz alma vazia
fazia poesia
e a poesia que fazia
tinha tamanho família
fazia poesia
e cada tábua que caía
doía no coração
fazia poesia
e fez alto em nossa folia
fazia tanta poesia
que ainda vai ter
poesia um dia

A alma de Leminski era a produção literária. O texto era sua sina, e ele exerceu com exatidão, com emoção e, de novo, muita criatividade, emoção e sensibilidade.

A admiração por ele não é só minha, a comoção por sua obra é geral! De músicos a literatos, passando por acadêmicos e intelectuais, Leminski hoje é tão cultuado, que seus setenta e cinco anos são mais uma razão para se ganhar tempo lendo de novo, e novamente, e um pouco mais, sua obra maravilhosa.

Acredito que quanto mais natural a pessoa, a situação, mais beleza demonstra a situação, e mais se inspira comoção nos momentos. Leminski é desses, que a cada leitura sua, a uma inspiração de vida, e após sua leitura, quando voltamos a espirar, já não somos mais os mesmo de antes.

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Vamos celebrar o curitibano, o polaco-loco-paca, o mestre espadachim da poesia brasileira, marginal, concretista, sendo a versão de nós que tem algo a dar ao mundo.

Evoé poeta samurai!

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê? 

1 COMENTÁRIO

  1. Puxa…. Achei o texto super interessante! A linguagem madura tanto de corencia quanto coesão fez jus a devida homenagem ao autor proposto. Que por sinal, eu não conhecia. Parabéns, Emanuel!

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