Nossa vida, nosso jardim

Apesar de serem muito numerosas as vidas que habitam este planeta; apesar de fazer tantos milênios que os homens e, naturalmente, a humanidade caminham por este mundo, não se alcançou ainda a superação das condições que devem distinguir a espécie humana.

Os homens vivem em todas as partes do mundo: uns estudando, outros trabalhando; uns lendo, outros escutando; e outros, sem fazer nada. Mas, entre a enorme quantidade de seres que se movem e cumprem suas atividades na ordem rotineira dos afazeres diários, promovem-se experiências instrutivas para o governo individual. Todos, sem exceção – uns mais, outros menos –, devem sentir diariamente, e algumas vezes de forma crua, a realidade dessas experiências, cujo valor é muito grande. Pois bem, extrai-se devidamente o fruto de tais experiências? Faz-se delas o uso adequado?

Geralmente, não se faz qualquer uso e, quando alguém recolhe os resultados delas e os utiliza em suas atuações, o faz de forma egoísta, reservando os benefícios obtidos unicamente para si. Os que por algum motivo triunfaram ou vêm triunfando na vida, raramente dizem de que meios se valeram nem quais experiências lhes foram de maior utilidade para corrigir sua conduta; enfim, guardam para si o que, segundo eles, conquistaram à custa de muitos sacrifícios, de muitas preocupações ou de muitas amarguras.

Assim, pois, todos – visto que quem priva outros de auxílio sofre, por sua vez, as consequências do mesmo erro por parte de seus semelhantes – ficam em uma total orfandade, desamparados pela mesma ignorância de tantos conhecimentos que poderiam ser conquistados por meio de tais experiências. Na verdade, se cada um oferecesse a seu próximo o conhecimento que delas se depreende, muitas experiências bastante dolorosas poderiam ser evitadas.

Existem pessoas que passam a vida dedicadas ao culto de um valor e, quando envelhecem, se dão conta de que esse não era o único, nem o melhor, nem o maior, nem o que mais lhes convinha, e que, ao mesmo tempo que prestavam culto a esse valor, podiam ter feito o mesmo com muitos outros, consagrando a seu cultivo idêntico empenho, constância e entusiasmo.

Encaminhar a vida não é tarefa fácil; não é tarefa simples. É necessário abrir primeiro o entendimento para que os eflúvios do conhecimento penetrem nele; mas abri-lo gradualmente, em uma absorção progressiva de luz que, iluminando a inteligência, ajude a compreender o verdadeiro valor das coisas.

A vida deve ser cuidada e enaltecida;
devem-se cultivar todas as possibilidades que contém e fazer delas um jardim

ainda que seja só para ter a ventura de recolher, de vez em quando, de cada planta que a própria mão semeou, cultivou e aperfeiçoou, uma flor. O conjunto de todas essas plantas serão as obras realizadas; as flores, as consequências úteis dessas obras. Mas a planta principal, a planta humana, na qual se concentram todos os movimentos da concepção interna, essa merece o maior dos cuidados e a maior atenção, pensando-se, a cada dia, no que se fez por ela.

Extraído do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico, pág. 235-238 e 240