Você sabe viver ou reveste sua vida de aparências?

A propensão à dissimulação consiste na tendência do indivíduo a mudar a face verdadeira das coisas, revestindo-as de uma aparência que costuma chegar a imitações surpreendentes da realidade. Isso quer dizer que alguém pode estar à beira de uma derrocada econômica, mas, incitado por motivos banais ou por algum interesse de outra ordem, é capaz de simular despreocupação e até se permitir esbanjamentos que deem a impressão de que seus bens se encontram em estado florescente. Em outras palavras, pretende convencer que o que finge é realidade.

A vida de aparências influi particularmente na gênese desta propensão, embora possa ser inata. A superficialidade que reina nela faz da dissimulação um meio do qual se lança mão para disfarçar com argúcia sentimentos e intenções, ganhar prestígio, despertar admiração e satisfazer, enfim, todo tipo de puerilidades. Exibe-se, em suma, o que não se é nem se tem; trata-se de um vão afã, que age poderosamente sobre um grande número de pessoas. Cada um pensa que o concurso da dissimulação é necessário, e, sem perceber, a propensão a fazer uso dela se acentua, cria raízes, torna a vida artificiosa e situa a pessoa fora da realidade.

A propensão à dissimulação provém da má formação educacional

É certo que podem ser citados outros fatores que originam esta propensão. Em primeiro lugar, a má formação educacional, de onde provêm quase sempre todos os demais fatores, a saber: vaidade, ambição, frivolidade, hipocrisia e alguns outros que denunciam condições caracterológicas muito sérias. Esses fatores – ou, mais claro ainda, essas deficiências –, que configuram, poderíamos dizer, o fundo da propensão de que nos ocupamos, segundo o grau de negatividade que alcancem no indivíduo, influem sobre a propensão e a agravam, convertendo-a em norma de conduta pessoal, de onde resultam depois formas de dissimulação condenáveis.

Poderíamos acrescentar que, no melhor dos casos, a propensão à dissimulação é a arte de ocultar difíceis situações pessoais, aparentando o contrário do que sucede. A bem da verdade, não cabe censurar as pessoas que lançam mão deste recurso para evitar a deprimente situação de ter de confessar aos demais o momento difícil que atravessam. Feita a ressalva, aconselhamos nunca incorrer no erro de fazer da dissimulação um hábito, pois isso implica a perda do bom conceito que possa ter.