No grupo encontrei a coragem que me faltava

Quando cheguei ao grupo de N/A, além da terrível depressão que sofria, eu era extremamente travada em relação às pessoas e aos ambientes em que vivia. Fui a criança que sempre chegava em último lugar quando todos corriam para pegar algo, a aluna quietinha que ficava no canto na hora do recreio, ficava sempre calada com medo de abrir a boca e ser criticada ou zombada, que muitas vezes foi empurrada e deixada de lado.

Assim permaneci, com a estranha sensação de que não havia lugar para mim no mundo, que eu estava sempre fazendo feio ou atrapalhando os outros. No grupo, criei coragem de falar de minhas experiência dolorosas porque me foi dito desde o primeiro dia que me era concedida a palavra por dez minutos. No início não usava esse tempo, apenas ouvia, ainda não tinha coragem de falar. Com o tempo, fui conseguindo expressar a dor que sentia e hoje o uso para falar da minha recuperação. A coragem de me expressar foram aparecendo com a segurança que me inspiravam os princípios de que ali não haveria ninguém para me doutrinar, me psicanalisar, dar conselhos ou levar para fora o que eu falava. Com o princípio de não haver pessoas investidas de autoridade e que os líderes são servidores de confiança, consegui vencer o medo de me expor, colaborando com o grupo no pouco que conseguia. Sentia que, mesmo se não fosse muito eficiente, não seria criticada nem rejeitada. Meus companheiros demonstraram isso na forma de agir comigo. A Quarta Tradição me deu coragem de ser independente emocionalmente dos demais, me mostrando que eu não precisava imitar ninguém. Desde que não estivesse prejudicando ninguém eu poderia ser livre para agir e as possíveis críticas ou rejeições de meus atos eram dificuldades que só o meu orgulho tornava intransponíveis. A Sétima Tradição me deu coragem de não me deixar explorar financeiramente por outras pessoas, pois muitas vezes, levada pela culpa, assumia compromissos que não eram meus. Perdi o medo de dizer não.

O grupo me ensinou que não é o grau de instrução ou condição social que fazem com que alguém seja melhor ou pior, que se todos somos iguais na doença então somos todos iguais como seres humanos. Portanto eu não precisaria ficar temerosa ao me aproximar de pessoas que eu julgava superiores a mim pela sua condição social ou por seus títulos. A não interferência na vida particular e afetiva dos membros me deu coragem de estabelecer limite nos meus relacionamentos. Adquiri coragem de zelar pela minha privacidade, não permitindo invasões de quem quer que seja. O princípio de decisão, único requisito para ser membro de N/A, me deu coragem de tomar minhas próprias decisões sem mais ter que esperar que outros a tomassem por mim. Também me deu coragem de ir em frente mesmo quando me deparo com posturas derrotistas e pessimistas como muitas vezes acontece no ambiente em que vivo. Enfim, como diz a nossa Oração da Serenidade, no grupo encontrei coragem de modificar as coisas que posso em minha vida e em meus relacionamentos. A aplicação dos princípios espirituais de N/A me dá coragem de ser eu mesma, com erros e acertos, com os altos e baixos que a vida apresenta, mas com coragem de viver a realidade do dia a dia, só por hoje. O programa de N/A é uma ferramenta de valor imensurável para a aquisição da saúde emocional e sou muito grata aos grupos que têm como base seus maravilhosos princípios que me deram a coragem de mudar a minha vida.