Lolita- Da Sedução à Escravidão

Olá, leitores! Quando decidi escrever sobre esse livro de Nabokov, um medo surpreendente me dominou: como falar de um assunto polêmico e tão discutido na sociedade atual sendo verdadeiramente livre de estereótipos? É uma tremenda responsabilidade comentar sobre a loucura obsessiva de um homem de meia-idade e a libertinagem de uma garota de 12 anos. O fator mais difícil é escrever livremente, deixando minhas impressões transbordarem, sem pender para o machismo ou qualquer outra possível rotulação. Ser neutra e ver que todas as histórias têm dois lados é a parte mais desafiadora ao comentar essa obra russa.

Lolita é um livro escrito nos anos 50 por Vladimir Nabokov, cuja melhor definição encontrada foi dada por um crítico literário que colocou Nabokov entre aos escritores surrealistas, como Kafka, Gogol e outros. Virou filme nas mãos de Kubrick e outros diretores, foi adaptado para o teatro, virou balé, ópera e causou muita indigestão na sociedade puritana da época. A dimensão foi tão grande no comportamento das pessoas que, hoje, qualquer menina “travessa” é chamada de Lolita.

Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô…Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.”. Essa é uma das primeiras amostras da história. Humbert, professor de literatura, com seus 40 anos, está obcecado por Dolores, uma menina de 12 anos – sim, tremendo mal-estar! Entre todas as ações da história, sabemos que Humbert é um escravo de suas paixões e que Lolita, a ninfeta (ninfa=natureza diabólica), não é tão inocente como aparenta ser. Entretanto, imaginar um envolvimento sexual entre um homem maduro e uma garotinha é algo abominador por nossa cultura.

Confesso que, ao ler o livro e entender os sentimentos de Humbert e a frivolidade de Lolita, me senti, muitas vezes, confusa em saber definir qual era a verdadeira vítima. Em uma leitura mais desatenta, o leitor encontrará uma menina sedutora que gosta de brincar de satisfazer seus caprichos “…o que me leva à loucura é a natureza dupla desta ninfeta…”. O livro se divide em duas partes: a primeira conta sobre a vida do professor, sua chegada nos EUA e o início do relacionamento com Lolita. A segunda, narra a tragédia da família e o “sequestro” de uma criança. Além, é claro, de abordar o tema amor doentio. Entretanto, é importante o leitor ficar atento ao fato de que o narrador é o próprio Humbert e, por esse motivo, muitos argumentos devem ser contestados.

Lolita é um tipo de livro que divide o público em dois grupos: os que amam e mergulham no seu universo doente, e os que o abominam e não conseguem terminar a leitura.

Quero, entretanto, deixar claro nessa coluna que a pedofilia é um assunto muito sério e que, mesmo torcendo pelo professor em algumas passagens em que nos tornamos seu confidente através da escrita, não há motivos justos ou suficientes que justifiquem a atitude de um adulto sobre as ações de uma criança. Por mais que ele alegue sedução, ele é o adulto da relação, a ele cabe o papel de controlar os instintos, a ele cabe o papel de preservar a dignidade de uma criança. Lolita é interessante e merece ser aplaudida enquanto uma obra de arte, mas jamais merece apoio na vida real.

Até a próxima e assistam o meu canal!