Ganhador do Nobel de Literatura de 1983, esse livro escrito nos anos 50 por William Golding narra a história de Ralph e seus amigos. Em plena Segunda Guerra, um avião com garotos fugitivos cai no meio do nada. Numa ilha deserta, distante dos horrores da guerra, essas crianças aprendem a sobreviver e a lutar pelo poder enquanto aguardam um possível resgate. A inocência pueril é substituída por uma selvagem ganância instintiva de disputa da liderança do local e a noção de civilidade torna-se apenas uma lembrança que um dia foi trocada pela selvageria sanguinária do homem no seu estado bruto.
Existem críticos que afirmam que Golding reconstruiu um universo bíblico em que a ilha paradisíaca é uma metáfora para o Éden e a aparição do “Bicho” (o Senhor das Moscas) equivaleria à serpente e ao surgimento do mal.
Um dos personagens, Simon, encontra um crânio de porco e profundos diálogos são narrados entre os dois. Nesse momento, o Senhor das Moscas é proclamado (leiam para entender melhor) e surge o Ba’alzevuv , tradução literal do hebraico para Beelzebub ou Belzebu.
O livro, considerado uma das jóias do pós-guerra juntamente com títulos como A revolução dos bichos, fala sobre o mal e sua natureza. O mais assustador é que, longe de uma ideia de um ser mitológico como um demônio, esse mal é real, é a constituição da raiz da humanidade, é a troca da imagem de crianças inocentes e puras por selvagens sanguinários e sedentos por controle. Desnudar a alma humana pode ser terrivelmente surpreendente e é isso que o autor nos convida a fazer.
Com uma narrativa simples em estrutura e macabra na sua finalidade, o livro nos proporciona uma vista da decadência da civilidade e o fortalecimento da selvageria, regado à orgulho, dominação, gosto pelo sangue e poder sobre os demais.
O que nos separa dos grandes primatas habitantes de selvas distantes? A linguagem? Talvez. Mas será esse detalhe tão grandioso para eliminar impulsos primitivos quando nos encontramos em situações possíveis de nudeza moral? Leiam “Senhor das Moscas” se tiverem estômago suficiente para aceitar nossa feiura interior, porque todos os homens têm um pouco dessas crianças no seu interior.
Abaixo, vídeo do meu canal sobre o livro. Leiam, assistam, “culturem-se”! O que importa é pensar. Até o próximo artigo.
