Observando a Vida

Um cachorrinho estava correndo bem rápido numa ruazinha próximo a uma praça pública numa pequena cidade do interior. Algumas pessoas viram aquela cena engraçadinha e começaram a comentar uns com os outros. Alguns tentaram deduzir porque o cachorro estava correndo tanto.

Uma mulher carente, um pouco solitária, que terminara recentemente seu casamento, disse:

– Ele deve estar correndo para encontrar a outra cachorrinha da cidade.

Um vagabundo que vivia na rua, cachaceiro, que não trabalhava por opção, disse:

– Ele está apenas curtindo a vida, desimpedido, pois não faz nada e gosta de ser livre.

Uma moça rica, cheia de pompa e vaidade, que carregava compras e gostava muito de conforto, disse:

– Ele está apenas correndo para buscar um lugar melhor, um local mais confortável, mais acolhedor. Ninguém gosta de viver à mercê das circunstâncias, sem coisa alguma para si.

Um homem medroso, sempre muito hesitante, que havia perdido várias oportunidades na vida e tinha fugido de várias situações, disse:

– Nada disso… Ele deve estar fugindo de algum cão raivoso, ou de algum perigo qualquer. Deve estar com muito medo de algo.

Outras pessoas foram dando a sua versão do fato. Cada uma delas tentava entender por que aquele cachorrinho estava correndo tanto na rua, no asfalto.

Um homem idoso e muito vivido, que diziam ser muito esclarecido e sábio, passava por ali e pôde ouvir alguns dos palpites das pessoas. Ele virou-se para todos e disse:

– Que nada meus amigos. Observem como o dia está ensolarado, com muito calor e o chão de asfalto está quente. Aquele cachorrinho ali está apenas correndo para evitar a quentura do solo. Suas patinhas estão queimando…

De fato, o cachorro chegou à grama e logo parou de correr. Aliviado, sentou-se e pôde finalmente descansar.

Na vida precisamos sempre tomar cuidado para não projetar na realidade sempre os nossos desejos, nossos medos ou nossos sofrimentos. Tudo isso pode nos dar uma noção irreal dos fatos. Nosso emocional e nossa subjetividade podem distorcer nossa visão do real e nos fazer enxergar coisas que, em realidade, não existem.

Vale a pena refletir.

(Hugo Lapa)