Quer tomar café conosco?

A piadinha tem séculos de existência, mas continua engraçada: O administrador de uma fazenda precisa falar urgentemente com o patrão e por isso vai à sua casa logo de manhã. Encontra-o à mesa de refeições. O patrão, que tomava seu desjejum ao lado da mulher, pergunta ao funcionário:

— Quer tomar café conosco?

Resposta:

— O café eu dispenso, mas aceito um pedacinho de nosco

O uso de conosco não tem vez na linguagem popular. Só se diz com nós, que soa grosseiramente a ouvidos mais delicados. No entanto, às vezes o obrigatório é com nós: Ela vai com nós todos – Isso aconteceu com nós mesmos – Nosso pai quer falar com nós três – Nossas obrigações para com nós próprios.

Como se vê pelos quatro exemplos, é preciso que haja um termo  que reforce ou esclareça o sentido da frase: um numeral, os vocábulos todos, mesmos, próprios.

Um sujeito muito observador pergunta se está correta a frase inscrita numa placa de bronze colocada nas proximidades da grande figueira de nosso principal jardim público: “Acompanhou toda história da cidade”.

Não está correta, e o pior é que eu sou o autor dela, com minha redação corrigida por alguém, provavelmente na fundição da peça. Deveria ser como escrevi: “Acompanhou toda a história da cidade”. Bem que pedi em vão a correção da batatada.

Note bem: todo, toda  quer dizer qualquer: “Todo serviço deve ser pago” – “Toda obra merece reparo”.

Todo o, toda a significa completo, inteiro: “Completou todo o serviço” – “Consertaram toda a calçada”.

Perceba a diferença entre as afirmativas: “Todo homem é mortal” (= qualquer) – “Todo o homem é mortal” (= completo, de corpo e alma, não sobra nada).

A letra x tem na língua portuguesa  diferentes usos, que podem ser consultados num razoável  dicionário. Se procuro a palavra máximo, encontrarei logo à frente dela, entre parênteses, as letras ss. Isso quer dizer que a pronúncia correta é mássimo, e não mácsimo . Depois de sexo, nexo, ônix, estarão as letras cs. Depois de texto, têxtil, pretexto, fênix, a letra será s. Depois de lixo, luxo, xarope, haverá as letras ch. Um z guiará a pronúncia de exato, exame, exorcismo, êxito.

Em outros vocábulos, o x não soa, é como se ele não tivesse sido escrito: excelente, excedente, excessivo…

Em hexágono, a pronúncia tradicional é representada por cs, mas há forte tendência de se proferir o x com valor de z. Ninguém diz, contudo, que o Brasil lutou pelo hezacampeonato, mas sim pelo hexacampeonato (cs), numa forma popularmente reduzida para hexa.

Perguntam se a construção  Nós é que somos trabalhadores, com esse esquisito nós é, está correta. Está, sim. A expressão é que é de realce e pode ser retirada da frase, que fica assim: Nós somos trabalhadores. Uma só oração. Outro exemplo: Eles é que têm razão.